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O que mudou em um mês de Guerra na Ucrânia?
por Vinicius Torres – Analista de Negócios Internacionais da FIEPE
A guerra entre Rússia e Ucrânia impeliu a economia internacional a um abrupto e complexo processo de reestruturação. Por um lado, implicando na aceleração de processos em curso e, por outro, alterando substancialmente essas tendências. Em um mês de conflito os preços do trigo subiram 26,2% e do milho 10,8%, enquanto os fertilizantes sofreram uma forte elevação de 40%, visto que Rússia e Ucrânia são grandes exportadoras dos gêneros no mercado internacional. Ainda, o preço do barril de petróleo Brent atingiu o patamar de $139 dólares, maior valor em 14 anos, e o gás natural na Europa atingiu €345 euros por MWh.
Já havia uma tendência na elevação de preços como resultado do reaquecimento no comércio internacional, observada desde o final de 2021, a partir da reabertura das economias, revelando um desarranjo logístico, com elevação do preço dos fretes internacionais, escassez de contêineres e insumos, que é rigorosamente agravado com a guerra. Mesmo diante dos novos confinamentos devido à variante Ômicron da Covid-19 em Shanghai – cidade mais populosa da China, derrubando em 7% o preço do petróleo – o que se revela é um cenário de instabilidade persistente na economia internacional.
Além disso, as amplas sanções econômicas agravam esse cenário, congelando ativos, impondo barreiras à compra de produtos russos e cortando a maioria de seus bancos do sistema SWIFT, evidenciando que os países europeus estão dispostos a buscar novos parceiros e alternativas ao comércio com a Rússia, que é responsável por 46,8% da origem de suas importações de gás. Com o encarecimento da energia os países europeus apostam em diversificar sua matriz energética, ao passo em que buscam arregimentar sua autonomia econômica de Moscou. De forma similar, os Estados Unidos procuram novos fornecedores de petróleo, reatando tratativas com a Venezuela e mudando os rumos de sua política externa para com o país.
Essa inflexão na atuação internacional dos EUA, União Europeia e aliados é evidenciada no aumento dos gastos militares, enquanto as sanções econômicas aceleram o afastamento da Rússia e implicam no aprofundamento de suas relações com a China. Desta forma, a guerra radicalizou processos já em curso, como a desdolarização da economia russa, expressa no sistema MIR como alternativa ao SWIFT, inserido na tendência de perda do protagonismo do dólar como moeda padrão de referência internacional. Assim como na saída de empresas ocidentais da Rússia, cujo “vazio econômico” é ocupado por companhias chinesas, a exemplo dos sistemas de pagamentos da Visa e Mastercard que foram substituídas pela UnionPay.
As previsões de crescimento para a economia global em 2022 caíram de 3,6% para 2,6%. Como a Rússia e a Ucrânia são importantes produtores de gêneros agrícolas, fertilizantes e hidrocarbonetos, o aumento nos preços acarretaram uma valorização expressiva das commodities. Os países europeus já começam a buscar no mar mediterrâneo e na África novos fornecedores de petróleo e gás e a possível entrada de dólares em países emergentes, produtores de matérias primas, pode valorizar suas moedas e relembrar o cenário dos anos 2000 com o boom das commodities, especialmente na América Latina.
No Brasil, importador de 85% de seus fertilizantes, a inflexão é evidenciada com a diversificação de parceiros, principalmente na América do Norte, Norte da África e Oriente Médio, tendo como destaque as compras do Canadá e Marrocos, e em especial a adoção de uma política de promoção da produção nacional do gênero, como forma de sanar a dependência externa do produto. O que segue uma tendência de encurtamento nas cadeias globais de valor que se verifica em todo o mundo, como resultado da insegurança do comércio global. Assim, mesmo diante dos prospectos de paz na Ucrânia, ainda haverá uma instabilidade persistente à medida em que a economia e o próprio sistema internacional se reestruturam para acomodar novas alianças em um mundo cada vez mais polarizado.
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